segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Quando não se sente mais parte


E quando chega a hora, aquela hora em que não se sabe se o "dizer não" significa fortaleza ou fraqueza? Quando, pela primeira vez, algo a que se dedicou tanto deixa de fazer sentido. Deixa de alimentar a alma e passa a inquietar o coração. É quando, finalmente, você não se sente mais parte de um grupo, de um algo maior que você. Surge um sentimento de solidão. Estou só nesse mundo? A criação deixa de fazer sentido. Por que o que eu crio não toca essas pessoas? Por que o que eu crio não toca? Não quero deixar de gostar da minha criação. Ela é tão essencial, tão visceral, tão eu. Eu não toco mais as pessoas? Aquelas pessoas com as quais convivi, as que me fizeram, de alguma forma, ser quem eu sou hoje. Por quê? O que se passou no hiato entre o que eu era e o que eu sou hoje? Acho que não acompanhei. Ou mudei tão rapidamente ou as pessoas à minha volta mudaram e nem notei. Passei batida. Fui ultrapassada. Não sou mais necessária. E algum dia fui? Não consigo mais contribuir, não conseguem mais contribuir comigo. Minha criação se espreme pra sair, sai com toda a dificuldade do mundo, é um parto, é difícil, às vezes flui, às vezes não. Mas nasce e renasce diariamente. E a avaliação a destrói no âmago da sua existência. Busca a fragilidade de seu ser e a arrebata. A mata? Me mata. Me mata um pouquinho. Suga minha energia vital. Mas eu sei continuar. Eu sei levantar mesmo toda ferida. Eu sei me reconstruir diariamente. Juntar aqueles pedacinhos da menina que fui e da mulher que busco ser. Colar de algum jeito que seja possível caminhar e seguir...