quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A montanha e o mar


Fiquei me perguntando se Dom Quixote era louco ou na verdade extremamente lúcido. Depois notei que esse questionamento sequer fazia sentido. Ou afinal de contas não vivemos um delírio coletivo? Somos seres delirantes por natureza, acho. Penso que entendi um pouco Dom Quixote ao encarar a montanha, aquele gigante de pedra. Criaturas gigantes nos fazem lembrar que somos minúsculos. Percebi que só se sobe uma montanha ao aceitar cada passo. E nessa longa caminhada rumo ao ponto mais alto o próprio sentido de infinito altera-se indefinidamente. A montanha nos ensina sobre alcançar o céu e manter os pés firmes no chão. Depois a gente descobre que subir é mais fácil que descer - a montanha nos faz sentir grandes e é na descida que nos deparamos com a pequenez. Os limites do cansaço, da sede e da fome se expandem. Ao descer, estamos irremediavelmente avançando rumo ao nível do mar onde nos aguarda o oceano.

Assim decidimos seguir. Como alpinistas, marujos, cavaleiros ou mesmo astronautas. Microscópicos seres delirantes em uma jornada sem fim rumo à imensidão.