sexta-feira, 16 de abril de 2010

Amigos na fé


Hoje saí feliz e realizada da Universidade, pois tive mais uma das três grandes oportunidades que tive de pensar em assuntos filosóficos de todos os meus três longos anos de vida acadêmica. Apesar de ter haver com matemática, o assunto é bem mais profundo e abstrato. O grande professor Ruy de Queiroz nos fez refletir um bocado ao mostrar um vídeo na aula de introdução ao assunto "A Tese de Church-Turing". O tal vídeo é um documentário da BBC de Londres, "Dangerous Knowledge".

Turing era um perito em criptografia e trabalhou para o governo inglês na segunda guerra mundial, decifrando os códigos de comunicação do exército alemão. Além do mais, o cara era obcecado por provar que o cérebro humano pode ser completamente substituído por uma máquina e é justamente daí que vem aquela história do Teste de Turing. Mas seu fim foi bem triste. Até hoje não se sabe se ele se suicidou ou se foi "suicidado" pelo governo inglês, pois este o declarou como sendo uma ameaça ao segredo de estado. O lance é que Alan Turing era homossexual e a sodomia na Inglaterra daquela época era considerada crime. Por isso, Turing foi obrigado a passar por uma castração química, recebendo doses de hormônio feminino. Imagine as mudanças que não ocorreram na fisiologia e psiqué desse cidadão (quem tem TPM sabe do que eu tô falando!) e então ele foi encontrado morto em seu apartamento, em 1954.

Mas a história que mais me chamou a atenção foi a de um matemático austríaco introverso chamado Kurt Gödel e sua amizade com um físico judeu extrovertido e brilhante mais conhecido como Einstein. Apesar da diferença de personalidade, os dois ficaram bastante próximos quando foram trabalhar em Princeton e, por incrível que pareça, compartilhavam das mesmas ideias. Quem diz que a ciência é cética definitivamente não conhece a história desses dois caras. Kurt Gödel, ao contrário de Turing, acreditava piamente que uma máquina nunca poderia raciocinar tão bem quanto um ser humano, pelo simples fato de que apenas humanos têm a chamada "intuição matemática". É como se ele acreditasse que seres humanos têm um lado divino que os habilita a criar "novas matemáticas". Einstein costumava dizer: "God is subtle but is not malicious", enquanto Gödel dizia que Deus não colocaria algo em Sua criação que nós não tivéssemos a capacidade de compreender. Os dois concordavam que existem coisas que não podem ser provadas através da lógica ou da razão, pois estão além da matemática e só podem ser entendidas pela intuição. E eles só falavam da tal "intuição matemática" com tanta propriedade porque, sem dúvidas, puderam senti-la.